RELATO BREVE E PARA DEBATE SOBRE O SEGUNDO ATO FORA BOLSONARO E MOURÃO EM ALVORADA


Alvorada também diz não para o governo Bolsonaro, em mais um ato de rua em favor do impeachment do presidente genocida. Mas dessa vez tivemos cerca de sessenta pessoas presentes na manifestação, contendo bandeiras de partidos e pessoas conhecidas- como a vereadora Giovana, a ex prefeita Stela, ambas do PT, e o presidente do PDT, Tiano. Portanto poucas pessoas do povo, anônimas, ou comuns. As manifestações em Alvorada têm sua “má fama” confirmada pelo ato ocorrido ontem, com poucas e sempre as mesmas pessoas? Terá sido esse segundo ato em Alvorada contra Bolsonaro e seu governo, um fracasso?

Respeito avaliações em contrário, mas opino que essa qualificação pejorativa é indevida, por estar descontextualizada. Alvorada é bem diferente de Porto Alegre, que conta com manifestações monumentais, e não deve ser modelo para avaliar atos ocorridos aqui.

Em Porto Alegre há diversas organizações políticas inexistentes em Alvorada, como MRT, Resistência Popular, tendências do PSOL, UP, PCO, entre outras. Com alternativas de articulações bem maiores que as possíveis em Alvorada.

Porto Alegre recebe em suas manifestações pessoas das diversas cidades da Região Metropolitana, muitas pessoas de Alvorada acham que não vale a pena protestar na sua cidade, por que aqui as manifestações são fracas, em uma espécie de “militância de resultados”. Não há a devida contrapartida, por parte da militância de Porto Alegre, com Alvorada.

Por vezes dirigentes partidários optam por não fazer nem carreata, por acharem que uma manifestação com poucas pessoas presentes poderá dar armas para a direita nos ridicularizar – pensamento contrário a qualquer forma de estímulo a conscientização popular em Alvorada, uma “política de resultados”. Isso mesmo, o enfrentamento a uma ação política combativa e embasada em uma teoria revolucionária, também ocorre em Alvorada. Ora, toda ação política resultará em críticas, por que a crítica deve impedir a realização da teoria na prática?

Quanto a cidade de Alvorada, a dificuldade econômica é vasta, diversos desses partidos presentes no 3J não possuem uma sede! A precariedade de estrutura limita bastante a agitação e propaganda, para a construção de um grande ato popular.

Alvorada é uma cidade de trabalhadores, com direitos a cada dia mais restringidos, com muitos desempregados, e a necessidade de sobreviver é mais urgente que a vontade de reagir em atos de rua como esse. Estar vivo, durante a gestão do presidente genocida, já é algo heróico, estar empregado é para poucos!

É sabido que a maior parte dos moradores de Alvorada, votaram 17 na urna na eleição presidencial mais recente. Isso foi notório na quantidade de pessoas que de dentro dos seus veículos disseram “viva Bolsonaro” ou “vai trabalhar” para os manifestantes, ou quando algumas pessoas rasgaram cheias de ódio ou devolveram educadamente panfletos com divulgação do ato, distribuídos um dia antes da manifestação.

Uma boa parcela das pessoas de esquerda em Alvorada, com suas razões que devem ser bem compreendidas, são contra manifestações, devido a continuidade da pandemia, mesmo concordando que o governo Bolsonaro faz uma péssima gestão em todos os sentidos.

Outro fator que serve para analisar de forma mais justa o ato de 3 de Julho em Alvorada, é que na nossa cidade, uma quantidade muito grande da militância de esquerda, coloca a luta parlamentar ou eleitoral em primeiro plano, por vezes achando que trabalho de base ou ação direta sejam algo secundário, ou sem importância. Uma prova é que inexistem organizações políticas anarquistas em Alvorada, que possam ter inserção em associações de moradores ou sindicatos e estimular uma política na esquerda local voltada para a criação do Poder Popular.

Também posso citar a indiferença da mídia local em cobrir manifestações, como ignorou as greves gerais e não poderíamos esperar algo distinto quanto aos protestos contra o governo Bolsonaro. Quando teve lutas populares por saneamento e asfalto na rua Anita Malfatti ou pelo direito ao trabalho da cooperativa de catadoras de Alvorada, sem envolvimento de partidos com representação na Câmara, os jornais de Alvorada simplesmente ignoraram. A ausência de notícias sobre as mobilizações, também desestimulam o envolvimento dos moradores da cidade em atos como o 3J.

Portanto, não acho que devamos avaliar o 3J em Alvorada, em comparação com o ato ocorrido em Porto Alegre. Nesse sentido, considero um erro dizer que foi um fiasco. Quem defende que foi, tente se somar na organização do próximo para sentir na pele todas as dificuldades que existem. Eu duvido que quem o fizer, não vá concordar comigo que uma caminhada em meia faixa, entre a prefeitura e o banco BANRISUL, com aproximadamente 60 pessoas, foi uma pequena vitória. Eu destaco as falas didáticas do Movimento Estudantil, que proporcionaram uma aula pública em movimento na avenida Getúlio Vargas, junto com faixas e cartazes por vacina e contra Bolsonaro e Mourão, intercaladas por gritos de “fora Bolsonaro”.

As dificuldades diminuirão, com o trabalho permanente político em Alvorada, de mobilização para os próximos atos: panfletagens com dias maiores de antecedência, colagem de lambes, mais conversas em locais de moradia, estudo e de trabalho, sobre a importância dessas manifestações, mesmo durante a pandemia. Tirar o foco da eleição do ano que vem. Mais faixas e cartazes com pautas concretas, sobretudo as econômicas, aprendamos com os estudantes que dizem com muita segurança serem “contra os cortes da educação”: por que eles nos mostram o caminho, esses atos são também contra o neo liberalismo. E uma das pautas de quem é contra o neo liberalismo, é impedir a reforma administrativa do governo federal, algo que não esteve presente no 3J em Alvorada.

Quanto a presença de partidos de esquerda no ato, deveria ser elogiada, é nas ruas que eles sempre deveriam estar. Meus sinceros elogios a todos os partidos e demais organizações presentes no 3J de Alvorada. Gostaria muito, que nos próximos se juntasse também o PSTU e MRS, bem como associações de moradores, ONGs, coletivos, ocupações, cursinhos e bibliotecas populares.

Pela criação de um Bloco Permanente de Lutas, como se ensaiou com o Comitê Alvoradense contra a Reforma Trabalhista e Previdenciária de Temer, Movimento Povo que Luta e Juntos por Alvorada.


Sobre o autor:



Rafael Freitas: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e apresentador do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada. Colunista no Jornal de Opinião (do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada- SIMA) e no Jornal de Viamão.

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