Uma excelente dica de filme sobre o sindicalismo brasileiro é ABC da greve. Um filme dirigido por Leon Hirszman (1937- 1987), que era judeu e comunista, pois foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), desde os quatorze anos de idade. Além disso, ele foi um dos criadores do Centro Popular de Cultura e um dos principais articuladores do movimento do Cinema Novo, um admirador do samba, o que fica bem exposto no filme acima citado. Enquanto escrevia o roteiro para Eles não usam black-tie, foi para São Bernardo do Campo registrar o grande movimento paredista dos metalúrgicos do ABC paulista, entre março e maio de 1979, com uma pequena equipe que trabalhava de modo cooperativado, para montar o documentário em longa metragem, chamado ABC da greve.
A
conclusão do filme se deu somente dois anos após o falecimento de Hirszman,
graças ao restauro de cenas perdidas e o som original ter sido digitalizado. A obra registrou a greve de 150.000 operários
metalúrgicos de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano (ABC paulista, o maior centro industrial da América Latina), iniciada na véspera da posse do
general Figueiredo na presidência da república.
Os trabalhadores reivindicavam aumento de 70% de seus salários e legalização dos delegados sindicais nas empresas, faziam assembleias em estádio de futebol, praça e igreja. Depois de negociações, os operários conquistaram aumento de 63%, dirigentes cassados retornaram às diretorias dos sindicatos, enquanto o governo cobria os prejuízos que os patrões tiveram durante os cerca de 45 dias de paralisação.
O filme destaca a liderança de Lula, que em suas falas geralmente desmobilizava a greve, preferindo as negociações às mobilizações dos trabalhadores, e ora chamava a atenção sobre os “provocadores” que estimulavam “bagunça”, ora solicitava que não se fizessem passeatas, nem piquetes. A película também coloca em relevo a desigualdade social do ABC paulista, a exemplo do aumento do número de favelas na região depois que iniciou a ditadura empresarial-militar de primeiro de abril de 1964.
Cenas do filme:
O filme não mostra as divisões dentro do movimento operário, sobre as quais uma boa indicação é o texto A escrita da História no cinema de Leon Hirszman. Um comunista diante das contradições do movimento operário (1979-1981), escrito por Reinaldo Cardenuto; além do livro A imprensa de esquerda e o movimento operário (1964-1984) de Celso Frederico (lançado em 2010 pela editora Expressão Popular). Por essas ausências, o documentário mostra aquilo que se propôs, um rudimento ou noções iniciais sobre as greves no ABC paulista em 1979. Um olhar mais atento, possibilitará o entendimento de que o líder sindical Lula sempre foi o oposto de dirigentes operários combativos, a exemplo de Santo Dias.
Sinopse:
O filme cobre os acontecimentos na região do ABC paulista, acompanhando a trajetória do movimento de 150 mil metalúrgicos em luta por melhores salários e condições de vida. Sem obter êxito em suas reivindicações, decidem-se pela greve, afrontando o governo militar. Este responde com uma intervenção no sindicato da categoria. Mobilizando numeroso contingente policial, o governo inicia uma grande operação de repressão. Sem espaço para realizar suas assembleias, os trabalhadores são acolhidos pela igreja. Passados 45 dias, patrões e empregados chegam a um acordo. Mas o movimento sindical nunca mais foi o mesmo.
Sobre o autor:
Rafael Freitas: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e apresentador do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada.
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