DOCUMENTO HISTÓRICO: JORNAL ECHO OPERÁRIO DE RIO GRANDE (1899)

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P- Mas afinal de contas combates por alguma idéia?

R- Combato pelo socialismo.

P- O que é Socialismo?

R- O Socialismo é o combate internacional do proletariado trabalhando para a sua emancipação moral e material pela expropriação da classe possuidora.

P- O que é proletariado?

R- O proletariado é a enorme massa sempre crescente dos deserdados, que são todos os indivíduos que para viverem se vêem forçados a darem os seus braços ou os seus cérebros ao capitalismo, a fim de perceberem um salário que os impede de morrer de fome, mas que é insuficiente para poderem satisfazer as necessidades que lhe foram impostas pela natureza e pela própria sociedade em que vivem.

P- O que é o capitalismo?

R- É o regime da exploração violenta e anárquica do proletariado. É uma espécie de feudalidade moderna.

P- E o que é o capital?

R- É o resultado da acumulação dos meios de produção pela expoliação do produtor direto.

P- O capital pode ser representado por outra coisa que não seja o dinheiro?

R- O capital-dinheiro é apenas uma superstição que mantém pelo cálculo o egoísmo da classe exploradora.

P- Qual é então o verdadeiro capital?

R- O verdadeiro capital é o capital-indústria, isto é, as oficinas, as fábricas, os armazéns, as máquinas, etc.

P- O que é um capitalista?

R- É um homem que vive do trabalho alheio.

P- Pode explicar-me isso melhor?

R- O capitalista é um homem que nada produz, mas que no entanto consome em excesso tudo quanto os seus semelhantes produzem, com abundância sem que por isso recebam o necessário para satisfazerem suas necessidades. Numa palavra, o capitalista é o parasita da nossa civilização.

P- Que nos diz o capitalista?

R- Diz-nos ser justificada, a pobreza dos que produzem e a riqueza dos que consomem, pela lei natural da luta pela existência.

P- E isso é verdade?

R- Não, porque a luta pela existência é uma lei d’ordem zoológica impossível de ser transportada para o domínio social, visto que os homens são todos da mesma origem e todos lutam contra as mesmas adversidades.

P- Que nos diz ainda o capitalista?

R- Diz-nos que não há questão social e que é necessário laisser faire et laisser passer.

P- O que é que tu entendes por questão social?

R- Entendo que é a questão originada pelas monstruosas desigualdades criadas pelo capital, que permitem que sejamos dum lado grande número de trabalhadores sem possuírem os meios suficientes para sustentar as suas famílias, ao passo que do outro vemos preguiçosos burgueses rodeados de todas as comodidades.

P- Essas desigualdades são imutáveis?

R- Não, porque não há imutabilidade senão nas desigualdades naturais. A natureza criou os homens, sendo uns fracos outros fortes, uns mais perfeitos do que outros, etc. mas nunca criou ricos, nem pobres.

P-  Que nos diz ainda o Socialismo?

R- Diz-nos que a produção das riquezas, sendo social nos seus meios, deve corresponder a uma repartição social.

P- Que entendes por repartição social?

R- Entendo ser uma repartição equitativa entre todos os produtores conforme as suas necessidades.

P- Acusam o Socialismo de ser a religião do ventre?

R- É falso. O socialismo abrange todas as aspirações humanas, econômicas, morais e intelectuais. A Revolução Social contém todas as revoluções.

P- E como se porá termo a este estado de coisas?

R- Abolindo-se as classes e socializando-se o capital-indústria.

P- Como se socializará o capital-indústria?

R- Expropriando-se a classe possuidora.

(Extr.)

 

ECHO OPERÁRIO. Rio Grande, 14-05-1899, p. 2.

 

Fonte: PETERSEN, Sílvia Regina Ferraz. LUCAS, Maria Elizabeth. Antologia do movimento operário gaúcho. 1870-1937. Porto Alegre: Editora da Universidade/Tchê!, 1992. (p. 37-39)

 


 

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