REBELIÃO DE NHEÇU

Nheçu liderou uma rebelião ocorrida em novembro de 1628, na região de Pirapó, onde atualmente fica a cidade de Roque Gonzales no Rio Grande do Sul. A revolta foi realizada contra os missionários da Companhia de Jesus, empreendimento colonizador, que disputava os indígenas locais com os bandeirantes. Fontes primárias como cartas, relatórios e processos informam dados sobre o levante de 1628. O líder indígena Nheçu se rebelou contra as reduções e tramou a morte dos padres Roque González, Alonso Rodriguez (mortos a mando de Caarupé) e Juan del Castillo (morto a mando de Quaraíbi e Araguirá). Após o sucesso do levante, por dois meses houve extraordinária repressão, resultando na morte de duzentos indígenas, em um massacre.

 

 

QUEM ERA NHEÇU

Nheçu (também com nome grafado como Neçú, Niezú, Nheçum ou Ñezú) era um cacique e pagé, que dominava as terras banhadas pelo rio Ijuí, reinando por aqueles povos, antes da vinda dos europeus. Entre os povos reunidos, aceitando a liderança de Nheçu, estavam indígenas que haviam fugido da redução de San Francisco Javier. Consta que ele era autoridade máxima em terras que ficavam ao noroeste do rio Ijuí, até as margens do rio Uruguai, onde hoje é a cidade de Roque Gonzales.

NHEÇU FOI DA COOPERAÇÃO PARA A CONSPIRAÇÃO

Roque González foi o primeiro missionário a estabelecer contato com Nheçu. Enviou diversas embaixadas para tentar convencer o cacique a aceitar a fé cristã, sem sucesso. Mas Nheçu acabou aceitando o estabelecimento de duas reduções na região. No dia 14 de agosto de 1628, os jesuítas fundaram a primeira delas. E apenas três meses depois, os emissários de Nheçu atacaram ambas, matando os padres por elas responsáveis. 

 

Um profundo ódio contra a fé cristã e aos padres, foi sendo criado no decorrer de uma convivência onde os missionários combatiam as tradições guaranis de poligamia, cantos antigos, cultos aos antepassados por meio de rituais com ossos guardados em santuários. Os padres passaram a ser chamados pejorativamente pelos indígenas de “hechiceros de burla” e de “fantasmas”.

DA CONSPIRAÇÃO PARA A REBELIÃO

Nheçu tramou com caciques subordinados e igualmente descontentes um plano para extirpar o cristianismo das suas terras. A reunião ocorreu no Cerro ou Morro do Inhacurutum, em uma noite com lua cheia.  Esse também foi local de combates entre as guerrilhas de Nheçu e as incursões dos jesuítas. 

 

As mortes dos padres de fato aconteceram e foram violentas, além de ritualizadas. Os missionários Roque Gonzales e Alonso foram depois de mortos, despidos, esquartejados, arrastados, jogados para dentro de uma igreja e queimados. Dois dias depois, foi a vez de Juan del Castillos. Que foi pego de surpresa, com o corpo moído a pauladas e sofreu todo o tipo de violências, foi morto ao fim com um golpe na cabeça. Depois disso, foi atado em uma cruz e queimado.

O ódio era tamanho que não bastava para os indígenas apenas matar os padres, que eles não foram devorados em rituais de antropofagia, e sim tiveram seus corpos totalmente destruídos, visando negar a eles a imortalidade. Assim como ocorreu com outros padres. Com as mortes de todos eles, os indígenas incendiaram igrejas e casas dos padres, quebraram crucifixos, rasgaram imagens, esmagaram cálices, intentando purificar o espaço. Apenas restaram as roupas litúrgicas dos padres, que foram levadas para Nheçu, ele por sua vez usando essas roupas e coberto de plumas, realizou rituais de contra batismos, objetivando desfazer os feitiços dos padres.

Quem primeiro se ergueu contra o colonialismo (os três padres assassinados, foram os primeiros homens brancos a iniciar a colonização europeia na região), em uma das maiores rebeliões ocorridas em toda a América do sul, jamais foi encontrado pela repressão, não foi preso, nem enforcado, nem convertido, desapareceu sem deixar rastros, nem nos livros de história! Alguns autores, relataram que Nheçu foi talvez cortar cana de açúcar como trabalhador escravizado no centro do Brasil, mas sem muitos detalhes.

DICAS DE LEITURA SOBRE A REVOLTA DE NHEÇU

Há um impressionante descaso com o levante de Nheçu nos livros de história do Rio Grande do Sul e do Brasil, mesmo que sobrem fontes primárias que comprovam a existência deste fato histórico.  Para contrapor a esse ocultamento, sugerimos duas obras: o livro “Terra de Nheçu”, escrito por Nelson Hoffmann e o artigo “A rebelião de Ñezú: em defesa de ‘su antiguo modo de vida’ (Pirapó, Provincia Jesuitica de Paraguai, 1628)”, com autoria de Paulo Rogério Melo de Oliveira.  



Sobre o autor:


Rafael Freitas: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo  de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e apresentador do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada.

 

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