O livro “corações sujos” de Fernando Moraes traz uma história bastante curiosa, e pouco lembrada no Brasil. Era o ano de 1945. O país estava vivendo os últimos dias da ditadura do Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas. A segunda guerra terminava na Europa e no Extremo Oriente com a derrota das potências do Eixo – Alemanha, Itália e Japão.
O envolvimento do Brasil no conflito trouxe algumas consequências para os descendentes dos imigrantes alemães, italianos e japoneses. Estes estavam proibidos de expressar qualquer coisa relacionada a seus países de origem. Ou seja, eram proibidos de falar e imprimir materiais em outra língua e as escolas deveriam ensinar apenas o português brasileiro.
Essas censuras se tornaram dramáticas especialmente estado de São Paulo, onde se concentrava a maior densidade de japoneses e seus descendentes.
Após a rendição japonesa, um grupo de fanáticos, japoneses de nascença e seus descendentes, organizaram um grupo, Shindo Renmei, que não aceitava a derrota japonesa. Eles diziam que a rendição do imperador japonês Hiroito era uma mentira inventada pelos Estados Unidos e disseminada pelo governo brasileiro. Para esses fanáticos, os que acreditavam na verdade, na derrota japonesa, não passavam de “corações sujos” e deveriam ser mortos.
E foi isso que ocorreu entre os últimos meses de 1945 e ao longo de 1946. Os fanáticos da Shindo Renmei vigiavam seus desafetos, marcavam suas residências, entravam nelas e cometiam os crimes. Em seguida, alguns deles se entregavam à polícia. Como se não bastasse a onda de violência perpetrada pelos japoneses no interior de São Paulo, a população brasileira começou a nutrir ódio pelos japoneses e seus descendentes. Esse ódio levou a um verdadeiro espetáculo de violência pública, quando japoneses foram linchados na cidade de Osvaldo Cruz, em julho de 1946.
Após vários episódios de violência, os principais membros da seita foram presos e o grupo se desarticulou, encerrando, assim, seu ciclo de mortes e disseminação de notícias falsas.
É interessante fazer um paralelo do caso Shindo Renmei com a atualidade. Hoje em dia, com as tecnologias da informação tão avançadas, e o apego às redes sociais, ainda é possível pessoas, aparentemente comuns, caírem ou contribuírem para redes de desinformação e disseminação de notícias falsas – as fake news. Fatos assim, onde um grupo dissemina falsidade e ódio, aparentemente são traços que ocorrem em certas circunstâncias na sociedade, de tempos em tempos. Atualmente, em meio a toda possibilidade das tecnologias da informação, uma notícia falsa só ganha maior repercussão. E suas consequências, tal como outrora, podem ser fatais.
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