Fordismo e Toyotismo

Desde sua gestação, com o processo da Revolução Industrial inglesa no início do século XIX, até sua configuração, com as independências da América Latina[1] e a Divisão Internacional do Trabalho[2] , ao longo do mesmo século XIX, o capitalismo passou por algumas transformações nas técnicas de produção de mercadorias. Dentro deste contexto, uma parte importante para a constituição do capitalismo foi o advento da divisão social do trabalho: fragmentação do processo de produção e montagem de uma mercadoria onde o trabalhador era responsável por apenas uma etapa do processo. O filósofo econômico escocês Adam Smith, já havia detectado esta característica. Contudo, foi no início do século XX, com um capitalismo já assentado em diversas partes do mundo, que os meios e as técnicas de organização de produção foram levados ao extremo; com a ajuda cada vez maior dos avanços da tecnologia aplicada nos diversos ramos da produção. Os capitalistas cada vez mais famintos por lucros exorbitantes, e os trabalhadores jogados cada vez mais na miséria e na pobreza. No século XX, surgiu o fordismo e o toyotismo como modelos de organização da produção.

O fordismo foi criado pelo capitalista estadunidense Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Motor Company – fabricante de carros. Inspirado nas técnicas de produção do engenheiro Frederick Taylor (1856-1915) Ford usou a “linha de produção” em suas fábricas, onde cada funcionário era especializado em apenas uma atividade específica.

Tempos Modernos” (1936) de Charlie Chaplin

A clássica cena do filme “Tempos Modernos” (1936) de Charlie Chaplin mostra bem como funciona a organização fordista. O trabalhador faz esforços repetitivos, realiza apenas uma função na linha de montagem. Seu trabalho é, por vezes, alienante, pois o trabalhador não tem acesso a seu produto final.

charge sobre alienação do trabalho

A charge acima exemplifica bem o exemplo de alienação extrema neste tipo de trabalho. Sem ter acesso ao resultado do que produz, o trabalhador do desenho, nem mesmo tem consciência do produto final que ajuda a construir – ele sabe fazer seu trabalho, mas não sabe quais outros processos estão por trás da linha de montagem; como de onde vem a matéria-prima, como são as outras etapas do processo de produção etc.

A ideia de Ford com este tipo de organização era produzir em larga escala, com menos gastos e maiores lucros. Para Ford isto faria o preço final de seus carros caírem pois mais pessoas teriam como comprá-los.

Já o toyotismo foi criado no Japão pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno (1912- 1990), num mundo pós Segunda Guerra Mundial. Este modelo foi aplicado nas fábricas da Toyota Motor Corporation, no Japão, na década de 1950, se espalhando pelo mundo (países desenvolvidos) a partir dos anos 1970. Cabe destacar que o Japão recebeu uma grande ajuda estadunidense após a guerra – como parte do plano de reestruturação econômica o chamado Plano Colombo, um equivalente ao Plano Marshall para o sudeste asiático.

Diferente do fordismo, no toyotismo o trabalhador conhece diversas fases da produção, e não apenas especializados em uma tarefa. A produção também é feita a partir das demandas do mercado (o chamado “just in time”), sem produção em larga escala; que por vezes pode não ser absorvida pelo mercado. No toyotismo se caracteriza o chamado “trabalhador polvo”: faz várias tarefas ao mesmo tempo, aumentando o lucro do empresário com menos postos de trabalho – frente ao desenvolvimento de novas tecnologias e a mecanização do trabalho que tiram vários empregos pelo mundo.


Trabalhador polvo

Notas:

[1] Para saber mais sobre as independências na América Latina leia Pensando as Independências na América Latina, disponível em: http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2014/05/pensando-as-independencias-na-america.html

[2] Para saber mais leia Miséria das Nações: a Divisão Internacional do Trabalho, disponível em:
http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2017/01/miseria-das-nacoes-divisao.html

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

3 comentários:

  1. O resumo do artigo, para o autor, é o seguinte: se há um patrão envolvido, é ruim.

    Para um leitor com uma visão mais ampla, significa que tais práticas contribuíram de fato para baixar os custos dos bens produzidos, via aumento da produtividade e da racionalidade, tornando-os acessíveis a um número muitas vezes maior de pessoas, de trabalhadores. É inegável a correlação entre "países desenvolvidos", como define o artigo, e liberalismo econômico.

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  2. Concordo com o Paulo Falcão. Desenvolvimento exige dinheiro e pessoas querem os dois. Acha ruim? Só morar numa caverna e a tecnologia não deixará de produzir.

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  3. Mais uma contribuição à reflexão, um texto que funciona como contra-ponto à ideia central por trás do artigo, que é a substituição da iniciativa privada pelo estado patrão:

    "O socialista proclama que a igualdade é o supremo valor. Não existe pior mal no mundo do que um homem ser rico e o outro pobre. Quando todos estiverem economicamente nivelados, um não poderá mais oprimir o outro pela ameaça da fome e do desemprego.
    Para instituir a igualdade, é preciso quebrar a espinha dorsal do poder econômico, e o instrumento para fazer isso é o Estado. Mas como quem tem o poder econômico não o cede de mão beijada, o Estado, para tomá-lo, tem de ser forte, muito mais forte do que o ralo Estado liberal que se contentava em ser um árbitro entre mercadores. Os funcionários do Estado socialista investem-se então de poderes especiais. O poder não somente se centraliza, mas se eleva. Abolido o poder econômico, resta apenas o poder político. As diferenças entre os homens não desapareceram, mas agora só há uma diferença essencial: a diferença entre quem tem e quem não tem poder político, entre quem está dentro e quem está fora da Nomenklatura. Antigamente, o homem alijado do poder político podia usar do poder econômico, seu ou emprestado, para fazer face à autoridade do Estado. O poder econômico fazia a mediação entre os de cima e os de baixo. Agora não há mais mediação. Quem sobe, sobe dentro do Estado. Quem cai, cai pelo cano do esgoto do Estado. E como não há poder fora do Estado, é compreensível que quem está dentro não queira sair nunca, e quem está fora não tenha como entrar senão por especial concessão dos de cima. Quando finalmente se estabelece a perfeita igualdade econômica, a desigualdade de poder político é tamanha, que torna o governante socialista uma divindade inacessível aos clamores de baixo."
    Olavo de Carvalho.
    4 de março de 1999.

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