Breve história de algumas cidades americanas

Mapa antigo da América

Antes da invasão de qualquer europeu, os incas e astecas construíram cidades que em número de habitantes chegavam a ultrapassar as europeias no mesmo período (dos séculos X a XV). Por exemplo, a capital do Império Inca, Cuzco, no atual Peru. Ou Tenochitlán, capital asteca, construída numa ilha e cujo acesso era feito através de um sistema de pontes.

Com a invasão espanhola estas grandiosas cidades foram destruídas e algumas partes aproveitadas pelos colonizadores europeus como base para suas operações, e até como capitais para os vice-reinados. A atual Cidade do México, por exemplo, foi construída sob a capital asteca Tenochtitlán. Após o cerco de Cortez e seus homens a velha e monumental capital dos astecas foi parcialmente destruída pelas batalhas e pelo saque. Em 1524, os espanhóis, já instalados na cidade, trataram de reconstruí-la. Mas não ao estilo asteca, e sim ao estilo europeu. Dominar não é apenas uma questão de força mas também uma questão cultural. Neste sentido, no lugar dos templos religiosos dos astecas foram erguidas igrejas católicas. O templo do deus Huitzilopochtli (chamado de Templo Mayor), localizado no centro de Tenochtitlán, foi totalmente destruído; das pedras deste templo foi construída a catedral metropolitana da Cidade do México.

Foi nas Antilhas (Hispaniola e Cuba) que se iniciou o núcleo colonizador espanhol. Em Hispaniola, foi construída a primeira cidade aos moldes espanhóis: Santo Domingo, fundada em 1496, por Bartolomeu Colombo, irmão e Cristovão. Em Santo Domingo foi criada a primeira universidade da América em 1538 e a primeira catedral.

O destino de Cuzco foi menos cruel do que o de Tenochitlán por ser uma cidade de difícil acesso, situada 3.400 metros acima do nível do mar e cercada de montanhas. Isto fez com que os europeus construíssem uma cidade mais próxima ao litoral, para facilitar a comunicação e o comércio. Assim, surgiu Lima em 1535, fundada por Pizarro, que deu-lhe o nome de Ciudad de los Reyes. Próximo a Lima, foi construído o porto de Callao, responsável por grande parte do comércio no período colonial, com o Panamá e o Pacífico.

Lima, acabou se tornando uma das cidades mais expressivas no período colonial. Tinha uma universidade, teatro e devido ao intenso comércio, ganhou notável importância econômica. Lima foi várias vezes destruída e reconstruída devido a terremotos na região. Em 1746, um terremoto destruiu totalmente o porto de Callao. Devido a estas catástrofes naturais e as reformas bourbônicas, Lima vai perder consideravelmente sua importância em fins do século XVIII. Neste período uma cidade que vai despontar em importância é Buenos Aires, situada no estuário do Rio da Prata.

Muitos historiadores argentinos dizem que Buenos Aires foi fundada duas vezes. A primeira em 1536 por Pedro de Mendoza, um explorador espanhol, que quando chegou às margens do Rio da Prata (rio que ganhou este nome por ter se tornado uma rota para escoar a prata de Potosí no Atlântico), teria respirado os “bons ares” daquela região. Com cerca de 1.500 homens, Mendoza fundou a vila de Santa Maria de los Buenos Aires. A região, entretanto, já possuía dono, o povo querandis, que não aceitaram o invasor tomando suas terras e passaram a hostilizá-los constantemente. Além dos querandis, os habitantes desta “primeira” Buenos Aires tinham que lhe dar com a fome; chegaram a comer cavalos nos dias mais difíceis. Após um ataque dos querandis aos poucos habitantes que restaram, a vila, foi abandonada.

Mapa antigo da América do Sul

Em 1580, foi fundado um novo núcleo de povoação espanhola, no mesmo lugar. É a “segunda fundação” de Buenos Aires; e acabou sendo a definitiva. Desta vez quem estabeleceu um novo povoado sob as ruínas do antigo foi Juan de Garay outro explorador e que já havia fundado Santa Fé em 1573. Esta cidade tinha o papel de ser o centro administrativo dos campos ao seu redor, responsáveis pelo abastecimento de gado para as minas de Potosí. Já Buenos Aires, como dissemos, tinha o papel de porto para escoar a produção, além de guarnecer todo o estuário; mostrar a presença espanhola na região.

Na época desta “segunda fundação” de Buenos Aires outra cidade também tinha uma grande importância política e econômica: Assunção. Fundada em 1537 por Juan Salazar de Espinosa e situada na margem do rio Paraguai, Assunção era um posto espanhol para o comércio fluvial. Numa época em que não existiam carros, trens, nem outro meio de transporte a não ser barcos e mulas, controlar os rios era o meio mais eficaz de controlar o comércio. Assim, toda a prata extraída de Potosí podia ser lavada em mulas até o rio Paraguai e descer até Buenos Aires, de onde partia para a Espanha via Atlântico sul.

Assunção, até o século XVIII era um importante centro urbano, pois além de ter a importância comercial era um centro político. Isto porque, ao longo dos séculos XVI e XVII, a região que hoje é o Paraguai teve forte influência das missões religiosas que catequizaram a maioria dos povos originais que viviam ali: os guaranis. A assimilação dos guaranis e dos colonizadores, desde o século XVI, acabou dando a cultura paraguaia feições mestiças. Tanto que até os dias de hoje o idioma oficial do país, além dos espanhol, é o guarani.

Outras cidades importantes na América do Sul foram Quito e Guayaquil, ambas situadas no atual Equador.

Quito é uma das cidades mais antigas da América do Sul. Foi construída por um povo chamado quitos e em 1487 foi dominada pelos incas até cair em mãos espanholas em 1533.

Guayaquil tem este nome devido a resistência do cacique Guaya e de sua esposa Quill à invasão espanhola. O núcleo primitivo de Guayaquil foi fundado e refundado várias vezes até ser estabelecido definitivamente, após a derrota final dos povos originais em 1538. À semelhança de outras cidades, Guayaquil tem a importância de estar situada num estuário, que facilita as rotas comerciais.

Em geral, toda a cidade construída pelos espanhóis seguiam o mesmo planejamento. Era fundada uma praça central (plaza mayor) onde se concentrava a administração (as assembleias – cabildos –, os tribunais – audiências) e tinha o formato quadricular. Desta praça central se irradiavam ruas e cruzamentos que formavam as quadras – os quarteirões.

Na América portuguesa não havia uma “tradição” urbana similar aos astecas e incas. Os povos que habitavam o Brasil viviam em aldeias, alguns muito isolados uns dos outros.

A cidade do Rio de Janeiro que foi construída devido a expedição de Mem de Sá contra os franceses, como já citado. Salvador foi construída em 1549 para servir de sede do governo geral. São Paulo, foi fundada em 1554 por obra dos jesuítas e ganhou importância econômica até meados do século XVIII e principalmente na segunda metade do século XIX. Cada cidade era administrada pelas Câmaras Municipais. Os membros destas Câmaras eram os chamados “homens de bens”, ou seja, que possuíam terras e trabalhadores escravizados.

E quem morava nestas cidades?

Os donos de terras e minas (que tinham uma residência na sua fazenda e uma na cidade); os encomenderos; alguns artesãos e comerciantes; os responsáveis pela guarda e segurança da cidade. Além, é claro, dos funcionários da Coroa responsáveis por aplicar as leis e arrecadar tributos. Na América colonial, espanhola e portuguesa, as cidades tinham, por tanto, funções políticas, administrativas e comerciais.


Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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