GREVE GERAL E REPRESSÃO DO GOVERNO ASSASSINO DE DUQUE NA COLÔMBIA

O Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata se solidariza com o povo colombiano, que mesmo após inaudita violência das forças públicas de segurança, continua na luta por melhores condições de existência. No entanto, reconhecemos que essa história é muito antiga, podemos citar, entre os fatos mais recentes, os protestos de novembro de 2019, que teve quatro mortes provocadas  por policiais. Além do memorável dia cinco de setembro de 2020, quando treze pessoas foram mortas em duas manifestações em Bogotá. Normalmente a polícia colombiana usa armas de fogo contra quem tenta participar da democracia, por que na Colômbia no período em que vivemos, o governo de Iván Duque trata o povo como seu inimigo número um!



                                    

    A revolta colombiana é um levante anticolonial


Desde 28 de abril o mundo assiste a uma outra revolta popular que tem como palco as terras colombianas. O Comite Nacional de Paro, pouco mencionado em “reportagens” na mídia brasileira convencional, convocou uma greve geral para dia 28 de abril, contra o projeto de reforma tributária do governo Iván Duque. Esse comitê pode ser considerado a vanguarda da rebelião hoje ainda vigente, e é formado por diversas entidades políticas representativas, como Central Unitaria de Trabajadores (CUT), Confederación Nacional del Trabajo (CGT), Confederación de Trabajadores de Colombia (CTC), Confederación de Pensionados de Colombia (CPC), Confederación Democrática de los Pensionados (CDP), Federación Colombiana de Trabajadores de la Educación (Fecode), Dignidad Agropecuaria, Cruzada Camionera, ao lado de organizações sociais e de estudantes. Em comunicados esse Comitê fez um chamado para que a polícia se retirassem das zonas onde ocorressem as manifestações populares contra reforma tributária. Enquanto havia o grito de ordem das centrais sindicais, dizendo que “A democracia não está de quarentena!". E "para seguir avançando!”. O que os noticiários brasileiros mostram hoje, iniciou com uma greve geral, instaurada em 28 de abril.

Durante o primeiro dia de greve geral, indígenas do povo Misak, derrubaram uma estátua do colonizador espanhol Sebastián de Belalcázar, na cidade de Cali. Vale lembrar que outro monumento dele já havia sido derrubado pelos Misak, em 2020. No dia 3 de maio, diversas manifestações ocorreram, em Cali (entre eles o bairro Comuna 20 ou Comunidade de Siloé, e bairro La Luna), e em Bucaramanga, com forte repressão da polícia. Devidos as mortes desde o início da greve geral, nesse dia houve uma vigília, que encontrou policiais encapuzados do Esquadrão Móvel Anti-Motim (ESMAD), estes usaram armas semi-automáticas e rifles contra o povo. No dia 4 de maio, ocorreram protestos de camponeses em Catatumbo com bloqueios em rodovias. Foram vários dias consecutivos de atos de rua e insurgência popular, com protagonismo de trabalhadores urbanos, mulheres, indígenas, camponeses e juventude.



 

                    

   A revolta colombiana é expressão explícita da luta de classes


O texto do projeto de reforma tributária de Duque propunha aumentar em 19% os impostos sobre serviços básicos como luz, gás e saneamento, e também tornar obrigatória a cobrança de imposto de renda dos trabalhadores que recebem mais de dois salários mínimos, que deixariam de serem isentos dessa cobrança. Essa demanda referente a reforma tributária foi atendida, mas o movimento possui várias outras pautas, e por essa razão, os protestos seguiram.

No dia 3 de maio, o ministro da fazenda Alberto Carrasquilla e vice ministro Juan Alberto Londoño, renunciaram aos seus cargos após a retirada de pauta do projeto de reforma tributária pelo governo de Duque. Com o anúncio de retirada de pauta do projeto, o Comitê Nacional de Paro afirmou que as mobilizações continuariam, por que “La gente, en las calles, está exigiendo mucho más que el retiro de la reforma tributaria”, além disso o governo não aceitou negociar as petições do Comitê, onde estão as bandeiras do movimento como um todo, a saber: garantias democráticas para protestos populares, reforma na saúde, fortalecimento da vacinação massiva, renda básica, subsídio para pequenas e médias empresas, desmilitarização das cidades, fim da violência policial e do ESMAD, parar a erradicação forçada de plantações ilícitas, abolir a pulverização aérea com agrotóxico glifosato, a retirada do “paquetazo” - que prevê precarização das leis do trabalho, na área da saúde e da previdência social- , por paz, vida, democracia. 

 
A violência policial do governo assassino de Duque inclui pessoas feridas por estarem em protestos, prisões arbitrárias, estupros, homicídios e defensores dos direitos humanos que foram impedidos de observar as ações de terrorismo de estado praticadas durante a greve geral. A exemplo do massacre de Siloé, onde na noite do dia 3, aconteceram várias mortes, vitimando crianças de 11 e 7 anos.Essa é a postura de um tirano colocado no poder, e que encontra forte oposição vindas das ruas. Diante da mobilização popular, Duque está visivelmente desesperado, falando inclusive em taxar grandes empresários. Mas não se engane! A luta de classes na Colômbia continua! 



Sobre o autor:


 


Rafael Freitas: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e apresentador do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada. Colunista no Jornal de Opinião (do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada- SIMA) e no Jornal de Viamão.

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