Para que estudar História, afinal de contas?




Para que estudar História, afinal de contas?
Certamente esta pergunta faz parte do cotidiano dos professores de História, e muitas vezes nós somos desafiados através deste questionamento, e não apenas por estudantes em sala de aula. Há um desinteresse por História pela população brasileira em geral. Esta é uma verdade inquestionável. Visível em todo setembro no Rio Grande do Sul, bem como nas atuais manifestações nas ruas clamando a volta do regime de 1° de abril de 1964, contra a corrupção!

Qual a utilidade do estudo da História? Este é um dos diversos temas sobre os quais discuto com amigos historiadores. Cito o professor Rafael Camargo, de Júlio de Castilhos/RS, especialista em História e Cultura Indígena e Afro-brasileira: ele sugeriu, por exemplo, que o dia 7 de Setembro marcou uma divisão do Império Lusitano entre pai e filho. O que me fez aproximar este período de nosso país inciado nesta data comemorativa com a forma de governo predominante da sociedade incaica, no atual Perú. O poder monárquico brasileiro passou a ser exercido por dois governantes, como nas antigas civilizações andinas (tínhamos que obedecer a dois reis).

O professor Rafael Camargo é proprietário do um blog, chamado “Por que Rafael?”, aonde fui entrevistado. Uma das perguntas foi justamente sobre o desinteresse da população pela História. Este é um trecho de minha resposta: “A versão de História transmitida através das escolas brasileiras é a alienada, aonde os estudantes não se reconhecem nela. Os conteúdos ainda são organizados dentro dos períodos da história europeia: ‘história antiga’, ‘história medieval’, ‘história moderna’, ‘história contemporânea’; as ideologias que movem os professores brasileiros são aquelas desenvolvidas a partir das realidades europeias: o cristianismo, o comunismo, o anarquismo, o capitalismo, além das ideias pedagógicas que são também importadas. O eurocentrismo é um fator decisivo para causar o desinteresse da população brasileira pela História. Considero o eurocentrismo uma mentalidade que ronda a educação escolar no Brasil, e que desempenha um decisivo papel ideológico. O eurocentrismo é um apriorismo, aonde o que é europeu é sempre mais desenvolvido, mais qualificado e mais eficiente: é, portanto, um idealismo.”.

Não há razão para dar espaço ao eurocentrismo nas aulas de História na educação escolar. Os pesquisadores de nossa História sabem que a História da América Latina é uma epopeia, faltando apenas um grande poeta para explicá-la. A América Latina é uma mulher, enigmática, repleta de mistérios e, devido a isso, por demais atraente. Está ausente em Eduardo Galeano o que a escola de Luis Vitale deixou em livros ainda não traduzidos em português. A Revolta de Espártaco não tem importância quando nos deparamos com o verdadeiro ato de heroísmo que foi a Revolução Haitiana. As utopias que influíram no pensamento clássico de esquerda europeu, decorreu em grande parte do deslumbramento de viajantes que descreveram as formas de viver dos povos originários, que aqui viviam antes da chegada dos imigrantes ilegais através de suas grandes navegações. E os quilombos de Palmares foram mais revolucionários do que a Comuna de Paris!

Respondendo a pergunta sobre qual a utilidade do estudo da História. Para confrontar a inversão idealista através das verdades existentes na ciência que está em todas as outras ciências. A verdade só poderá vir a tona através do estudo sistemático da História. Então vamos perceber que não poderemos influir na nossa realidade concreta, seja na sala de aula enquanto professores, em casa na educação de nossos filhos, no mercado de trabalho, ou em tantos outros lugares, de modo competente e efetivo, se nossas mentes nos enganam e nos convencem de que não estamos aqui.


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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