JAMAICA

Bandeira da Jamaica

Quando os espanhóis invadiram a América instalaram colônias em algumas ilhas do Caribe, entre as quais uma habitada pelo povo aruaques – que chamavam seu lar de “Xaymaca” (terra de florestas e água).

À invasão espanhola seguiu-se o extermínio dos aruaques. Mas o projeto colonial espanhol precisava de braços para trabalhar nas plantações de açúcar e na produção de rum – trouxeram os africanos para trabalhar como escravizados; em pouco tempo eles se tornaram a maioria da população local.

Em 1597 vieram os ingleses, que iniciaram uma grande guerra pela hegemonia no Caribe. A Jamaica se tornou o mais violento palco desta guerra. Enquanto espanhóis e ingleses lutavam pelo domínio da ilha, os trabalhadores escravizados lutavam por sua liberdade. Eles se organizavam em grupos e fugiam para as Blue Montains, resistindo bravamente aqueles que vinham captura-los – uma verdadeira experiência guerrilheira. No ano de 1655 os ingleses Willian Penn e Robert Venables conseguiram tomar da Espanha a ilha; mas somente em 1670 com a Paz de Madrid o governo espanhol reconheceu a ilha como posse inglesa. A partir de então a Inglaterra transformou a Jamaica no núcleo de seus negócios no Caribe. A ilha passou a ser governada por um enviado de Londres que exercia o cargo de “governador-chefe”, junto com um “conselho” escolhido por ele e por membros da empresa Companhia das Índias Ocidentais. Mas o poder colonial tinha um inimigo interno que ainda resistia: os negros entrincheirados nas montanhas.

No século XIX o poderio inglês estava ainda maior do que nos séculos anteriores. Os movimentos de independência da América Latina iniciaram justamente no Caribe com a Revolução Haitiana. Os lords ingleses na Jamaica obviamente estavam aterrorizados. A maior parte da população estava vivendo sob o regime de escravidão, se eles se “contaminassem” com as ideias haitianas seria o fim do seu domínio. Com isto, foram promulgadas algumas leis que “teoricamente” terminavam com a escravidão, para dar a sensação que os trabalhadores não eram mais escravizados e sim livres; e deste modo não precisavam se levantar contra os “bondosos brancos” que lhes libertaram da escravidão. Em 1807 foi abolido o tráfico negreiro e em 1838 todos os escravizados foram considerados livres – desde que indenizassem o seu ex-proprietário; na prática a escravidão se tornou uma servidão em que os trabalhadores deveriam pagar uma parte de seu “salário” para o fazendeiro. Isso fez com que muitos trabalhadores não tivessem condições de se manter e abandonassem os latifúndios. Obviamente, as autoridades não previam esse “êxodo rural” e logo passaram a perseguir aqueles que deixassem os latifúndios – os trabalhadores eram livres, mas não tanto quanto pensavam...

No final do século XIX, com a consolidação da Divisão Internacional do Trabalho, os governos (ainda nomeados pelos ingleses) se esforçaram para que a Jamaica se mantivesse como produtora de matérias-primas. A ilha produzia para fora, além do açúcar, café e bananas. Através da plantação e exportação de bananas que A. W. Baker acumulou capital para mais tarde criar a famigerada United Fruit Company. Enquanto isso, os trabalhadores jamaicanos continuavam sem qualquer direito, e muito menos participação na política.

Esta situação começou a se modificar a partir dos anos 1920, quando a Inglaterra já declinava seu poder imperialista com o fim da guerra de 1914-1918 e a ascensão dos Estados Unidos. O imperialismo yankee, que estendia seus tentáculos sobre o Caribe, popou a Jamaica por ainda ser uma colônia inglesa. Em 1938 iniciou-se um grande movimento de trabalhadores, principalmente na capital Kingston, em alusão ao 100 anos do fim da escravidão. 100 anos depois a vida dos trabalhadores pouco mudou, não tinham direitos, eram tratados como coisas, não tinham acesso a medicina nem mesmo a educação, viviam perseguidos pela polícia e não tinham voz na política. As manifestações chamaram a atenção de outros setores da sociedade, de onde surgiram lideranças às quais os trabalhadores passaram a se identificar, como a do advogado Norman Manley (1893- 1969) e do industrial Alexander Bustamante (1884-1977). Ambos fundaram, no mesmo ano de 1938, o Partido Nacional do Povo (People National Party – PNP) que além de revindicar melhores condições de vida para os trabalhadores, exigia a independência do país.

Em pouco tempo, duas tendências surgiram no PNP, representadas justamente pelos seus dois líderes. A tendência de Bustamante era mais conservadora, ele próprio era chefe de um sindicato “mutualista” chamado Bustamante Industrial Trade Union (Sindicato Industrial Bustamante – BITU). Além disto, Bustamante não queria a independência total da Jamaica, queria que ela participasse de uma “Federação das Índias Ocidentais” juntamente com as demais ilhas sob o domínio inglês. Esta “federação” faria parte do Commonwealth britânico. Mesmo sendo conservador, Bustamanete foi preso em 1940 foi atividade “subversiva”.

Por outro lado, a tendência de Normal Manley era mais radical. Ele atuava como advogado de diversos trabalhadores e queria que o próprio povo jamaicano decidisse numa votação se queria ou não a independência. Em 1943, houve o rompimento definitivo das duas tendências: logo após sair da prisão Bustamante organizou o Partido Trabalhista da Jamaica (Jamaica Labour Party – JLP) de tendências liberais. A pressão popular, agora representada por dois grandes partidos, mais a conjuntura internacional de luta contra a ditadura nazi-fascista, fez com que a autoridade inglesa promulgasse uma constituição relativamente democrática em 1944. A partir de então a Câmara dos Representantes (legislativo) seria eleita por sufrágio universal. Isto foi uma vitória para os trabalhadores, lentamente eles iniciavam a participar de forma ativa da política – inclusive com o voto das mulheres. Com o fim da guerra em 1945 a Jamaica recebe alguns investimentos externos (oriundos principalmente da Inglaterra). Inicia-se um lento processo de industrialização com refinarias e extração de bauxita – de onde provém a maior parte dos rendimentos do país.

Norman Manley e Alexandre Bustamante

Em 1953, a maioria da Câmara de Representantes escolhe Bustamante como primeiro-ministro. Em 1955, Manley se elegeu e iniciou um audacioso programa que previa a reforma agrária, incentivos a indústria nacional, previdência social e educação – a principal demanda era formar professores na Jamaica. Em 1958 a Jamaica entra na Federação das Índias Ocidentais, mesmo com Manley no governo. Seu rival político, Bustamante, entretanto, passou de defensor da Federação a ardoroso critico da instituição. Ele iniciou uma campanha nacional pela saída da Jamaica do órgão. O oportunismo de Bustamante acabou ganhando corações e mentes dos jamaicanos que em 1962 elegeram a maioria do JLP para o parlamento, que por sua vez reconduziram Bustamante ao cargo de primeiro-ministro. Contudo, a velha ideia de Manley de um plebiscito popular não foi descartada. Em setembro de 1961 a população escolhia o fim da permanência na Federação e também a independência formal da ilha. Mas foi somente em 1962, após inúmeros acordos com Londres que a Jamaica se tornou independente – mas parte do Commonwealth britânico. A ilha continua sendo uma monarquia parlamentar cuja soberana é a rainha da Inglaterra.

O governo de Bustamante durou até 1967, mas seu partido se manteve no poder até 1972. Neste ano o PNP volta ao governo com o novo primeiro-ministro Michael Manley, filho do fundador do partido, Norman. Seu governo durou de 1972 até 1980. Neste período “a Jamaica conheceu, [...], um período de 'socialismo democrático' [...]. apesar das reformas sociais fundamentais, a experiência acabou em um fracasso, em parte devido à hostilidade das instituições financeiras internacionais”.[1]

Michael Manley

Com o avanço do neoliberalismo nos anos 1980/1990, o país acabou se tornando refém das instituições financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial), principalmente devido a uma falta de política nacionalista que rompesse com a lógica do desenvolvimento com ajuda estrangeira. Isto se agravou com a volta do JLP ao governo. O turismo acabou se tornando outra grande fonte de rendas para o país. Em 2012 é eleita como primeira- ministra Portia Simpson-Miller, do PNP. O neoliberalismo continua a dominar o país, e tal qual em outros países da América Latina, o partido do poder (do campo da esquerda) não enfrenta este problema.

Portia Simpson-Miller, primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra, na história da Jamaica.


Notas:

[1]DABÈNE, Olivier. América Latina no século XX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, p. 197

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio La Integracion. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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