Resenha
Neste livro o autor nos leva a refletir sobre o suicídio e suas causas, uma engenhosa reflexão para que possamos enveredar até a obscuridade deste ato, sem que julguemos quem o faça. O autor acertou quando narra ser o suicídio, a morte de si mesmo, os devaneios da mente diante da vontade de interromper, aniquilar a vida, diante de uma eminência chamada dor, sofrimento, depressão, solidão, que a maioria dos suicidas acredita ser para sempre em suas vidas, e onde o corpo e a mente ficam debilitados, fazendo com que um seja cúmplice do outro, físico e moral tornando-se complacente na amargura, findando em um suicídio. Disse bem o autor, quais são as causas que nos levam a cometer essa ação? Deixa também uma pergunta no ar: Falta de Fé? E acredita ser a total incredulidade na vida após a morte. Quer ele, que com essa leitura interessante, percebemos as fantasias que aspectos diferentes relacionados à dor passam em nossas cabeças, quem nunca pensou em suicídio, quando nos deparamos com o sofrimento, queremos fugir não existir, desintegrar, isto é uma forma de suicídio inerente.
O suicídio está em todas as partes, em todos os lugares, tendo sua terminologia, como um fato social, ou seja, qualquer forma de coerção sobre os indivíduos que são tidos como uma coisa exterior a eles, tendo uma existência independente e estabelecida em toda a sociedade, daí o sociólogo Emille Durkheim envolto ao início da Revolução Industrial, notando o alto crescimento do suicídio, estudou com afinco a atitude individual de revogar a própria vida, podendo ser causada entre outros fatores por um elevado grau de sofrimento, que tanto pode ser verdadeiro ou ter sua origem em algum transtorno afetivo, transtorno psiquiátrico agudo quando o indivíduo sai da realidade, contudo, não o percebe, ou a depressão delirante. O autor alerta para as fantasias que surgem no suicida, que acredito ser proeminente do ego, do orgulho, da vergonha. A vingança vem atrelada na mágoa, muitas vezes martela tanto na cabeça, que a pessoa se torna escravo desta vontade. Disse bem o Filósofo Michael Foucault, relações de poder estão em diversas partes de nossas vidas, algumas pessoas cometem suicídio após o rompimento de um romance, por vingança também, como lembra o autor. Então encontramos uma relação de poder entre o suicida e seu conflito atual, Getúlio Vargas como ressaltado no livro, matou-se não com o intuito de vingança contra seus inimigos, para que estes por sua vez ficassem arrependidos, Getúlio saiu da vida para entrar em sua própria história, seu conflito era seu próprio orgulho ferido, pelo qual acreditava ou delirava, que um homem como ele nunca deveria entregar-se. Acredito que pela mesma alucinação passou Nero, assim como Cleópatra e Adolf Hitler. Quantos não cometem esse desatino em hospícios, prisões, seria uma luta entre o indivíduo e os constantes remédios recebidos, ou o indivíduo e os carcereiros, onde o sistema que impõem regras e não suportando tal pressão mata-se.
Ao terminar seu romance com Rodin, Camille Claudel entrou em transe e acabou em uma clínica para loucos, decretando assim o seu próprio suicídio, anos e anos mais tarde quando já envelhecera, morrendo sozinha e solitária. Madame Bovary não agüentou ser deixada por seu amante caindo em ruína, até dar cabo de sua vida, enquanto que seu marido sofrendo a separação na morte da esposa comete o mesmo ato, entramos então em um campo delicado, onde Allan Kardec diz que continuamos a viver além-túmulo e colheremos as conseqüências de erros passados, olhando por este lado, volto a citar que o autor está certo quando reflete sobre a falta de fé. Mas vale lembrar, que nem todo mundo acredita em vida após morte. Havendo a ação de matarem-se, acarreta conseqüências e sua autodestruição comenta muito bem o autor. Quando o autor cita a epidemia de moças suicidas, onde os cadáveres eram levados nus, até o cemitério para servissem de modelo e para que não ocorressem mais a mesma insanidade exemplifica o pensamento de Foucault novamente, à época dos suplícios, ocorria à mesma manifestação, daí refletimos: suicídios existem desde os tempos remotos, e a vontade e maneira só depende de estar na hora certa e no lugar certo. Pensemos agora nas fantasias citadas no livro, acredita o autor serem reações dos vivos diante da morte, muitas vezes não querendo sua própria morte, mas fantasia o objeto de sua desforra, sofrendo, amargurado. Conta o autor uma estória engraçada onde o suicida não querendo nada que pudesse salvá-lo, desiste do feito, quando se vê ameaçado com uma arma. Então pensamos ninguém no fundo do seu ser, quer morrer, apenas amenizar a sua dor.
Na leitura deste livro sentimos vontade de analisar diversas facetas do suicídio como o cultural e social bem lembrado pelo autor. No social encontramos Santos Dumont, notando que sua grande invenção acabou nas mãos da grande guerra, tirou sua vida em total depressão, acreditando ter fragmentado a sociedade. Os anciãos, acreditando estar dando muito trabalham a seus familiares devido à idade avançada e doenças constantes, acabam por dar cabo de sua vida, com o mesmo sintoma. Não podemos deixar de citar que ainda no social, existem pessoas que por encontrarem desempregados, sem esperança, filhos e esposa para serem alimentados, perdem totalmente o chão, sentem-se fracos, incapazes. No cultural existem diversos aspectos a levar em consideração, o tabu criado através das crenças religiosas, onde condenam taxando de pecado e o ato cometido para fugir à desonra, onde diversos jovens japoneses quando não conseguem passar no vestibular cometem suicídio. Ernest Hemingway, escritor renomado, várias obras escritas por ele teve o seu final trágico, acredito que certas pessoas entram tanto em suas ficções, que acarretam dupla personalidade, não sabendo até onde vai ou está seguindo sua própria existência, onde de repente, talvez cansado, fantasiando incorrigível, certa manhã, acabou de vez com seu sonho.
Mas no aspecto cultural não é só isso, até mesmo uma pessoa com uma bagagem cultural ampla, poderá cometer o suicídio, devido às pressões encontradas, como filhos onde os pais querem a qualquer custo que siga a profissão do pai ou do avô, como Advogado, Médico, e o mesmo por sua vez não quer estudar para exercer este cargo, sem ação, sem noção do que fazer e até mesmo não querendo desiludir seus familiares, arraiga-se então, na única saída possível para seu pesadelo atual, ou seja, a morte do seu ser.
O autor leva-nos a delirar em nossos próprios pensamentos, quanto ao suicídio inconsciente, como o fumante dizendo sempre não conseguir parar, arranjando desculpas, onde analiso friamente ser o desejo de morrer gritando de dentro do seu íntimo.
Vale lembrar que o autor cita também no mesmo grupo, os alcoólatras e os viciados em drogas. Descreve bem o autor, suicídios ligados ao fracasso, ao mesmo tempo em que existe suicida que ao atingir o cume da sua vida profissional, tendo então status e poder, e não existindo mais nada a conquistar, cai em profunda depressão, acreditando ser o fim de sua existência, comete essa atrocidade no seu próprio corpo e espírito, como citou Allan Kardec.
A leitura deste livro é interessante porque nos leva a ver e a pensar de vários anglos, tanto no campo espiritual, científico e atual. Virginia Woolf sentia a sensação de opressão, perigo, horror, sintomas de depressão grave, sentindo-se incapaz de controlar a vida, deliberadamente optou pelo caminho da morte, afogando-se num rio com os bolsos repletos de pedras. Ressalto que muitos jovens estão se matando por qualquer razão que os desagrada, ou seja, seria o excesso de uma vida elitizada ou a falta de estrutura fazendo com que estes procurem a morte como consolo? Vale refletir! O suicídio é a causa mortis de depressivos, solitários, desesperançados, deprimidos, desempregados, mulheres, homens, crianças e jovens, negros, brancos e índios, um sentimento, mágoa, desgosto, melancolia que pode ser experimentado por qual raça, e onde devemos respeitar e tenta entender as razões. O filósofo Albert Camus, deixou-nos uma frase para refletirmos: “O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo" Enfim, este livro nos leva a imaginar, fantasiar, estudar e pensar profundamente no suicídio e suas consequências.
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