Fomos informados sobre o término das transmissões da rádio comunitária "A Voz do Morro". Conversamos com Rodrigo, para esclarecer sobre as causas dessa decisão e visando também registrar um pouco da história dessa rádio, que era realmente comunitária e vai fazer muita falta nas nossas lutas.
O radialista da rádio comunitária A Voz do Morro, Rodrigo, nosso entrevistado. |
Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata- Saudações, Rodrigo Rodrigues! Conte-nos um pouco sobre a origem da rádio comunitária A Voz do Morro?
A Voz do Morro- A Rádio A Voz do Morro surgiu na periferia da Zona Leste de Porto Alegre, que abrange as comunidades do Morro Santana, Mário Quintana e Jardim Carvalho (CEFER 1 e 2, IPE 1 e 2, etc). Fazem parte dela moradorxs da região e apoiadorxs. A rádio nasceu em 2002, a partir do grupo de homens e mulheres que se reunia no Comitê de Resistência Popular Zona Leste, organização popular que promove lutas na periferia. Ela começou como rádio-poste aos finais de semana, pra divulgar eventos da comunidade, fazer debates sobre problemas e soluções e divulgar artistas locais. Com muita luta, muitos mutirões, brechós, rifas e tudo mais, conquistamos o nosso primeiro transmissor e a rádio passou a ter um dial (88,3 FM) e programação fixa, com mais participação de grupos e moradores da comunidade.
Programa Nay no Samba, com visita de artistas do bairro
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GEACB- Nosso grupo de estudos inaugurou o programa História em Pauta na rádio web 3W em Alvorada, em seguida na web rádio do Ponto de Cultura La Integracion em Porto Alegre, e depois na A Voz do Morro. Sempre seremos muito gratos! Como foi essa parceria para a rádio?
A Voz do Morro- Foi um período muito bom de aprendizado coletivo e exercício de luta, organização e cidadania. A proposta do programa História em Pauta nos possibilitou a ampliar o público e a qualificar o debate, acredito que todos crescemos com essa experiência, e sei que a parceira não termina por aqui. 3- Infelizmente a rádio comunitária A Voz do Morro irá encerrar suas atividades por tempo indeterminado. Quais as razões determinaram essa decisão? O nosso objetivo sempre foi melhorar o nosso bairro e dar voz aos moradores, a rádio era uma ferramenta para atingir esse objetivo. Hoje estamos vivendo outro momento no que diz respeito a comunicação comunitária. Os grupos e redes sociais conectados na rede hoje são a principal ferramenta de comunicação e a rádio fica um pouco defasada. Isso tem influenciado muito no processo de renovação. Saem alguns comunicadores mais antigos e não tem essa “reposição” no quadro, está mais difícil manter uma programação com grade mínima, mas não vejo isso como algo ruim de todo. Fizemos coisas boas e coisas muito boas no período em que estivemos em atividade.
GEACB- Qual a importância social de uma rádio comunitária, em tese?
A Voz do Morro- Uma rádio comunitária tem como objetivo proporcionar informação, cultura, entretenimento e lazer a pequenas comunidades, mas acima de tudo dar voz a essa comunidade, suas pautas, suas demandas. Deve ser um organismo vivo, em defesa da comunidade e em defesa da democratização dos meios de comunicação.
Oficina na rádio com o pessoal da Biblioteca Comunitária Visão Periférica
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GEACB- Qual a importância que a rádio teve na prática, no bairro Morro Santana?
A Voz do Morro- Fizemos nosso papel naquilo que compreendemos como objetivos de uma rádio comunitária. Colocamos em evidência artistas locais, ajudamos a construir propostas de leis de incentivo e defesa das rádios, inclusive aprovando algumas. Muitas campanhas solidárias, comunicadores que passaram pela experiência na rádio e hoje seguem como radialistas em pequenas rádios comerciais levando na bagagem a formação feita neste espaço. E uma infinidade de oficinas para outras comunidades, escolas, movimentos sociais e universidades.
GEACB- Muito obrigado pelas respostas. Dê um recado aos leitores do nosso blog?
A Voz do Morro- Agradeço ao espaço dado pelo GEACB, em especial ao Rafael Freitas e ao Fábio Melo, parceiros nestes últimos anos de atividade da rádio, e aos leitores e leitoras do blog gostaria de dizer que este não é um fim, mas um novo começo temos o legado da Rádio Comunitária A Voz do Morro e muito chão e luta pela frente. Abraços, Rodrigo Rodrigues.
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