O PAPEL DO HISTORIADOR NA LUTA DE CLASSES DO BRASIL

A História sempre foi uma ciência renegada no Brasil. Nós, profissionais da História, ainda restritos a sala de aula, recebemos o ódio de amplos estratos conservadores da sociedade que nos colocam como “doutrinadores comunistas”. Na prática, essa falta de importância que dão para a História está ligada ao projeto das elites do atraso, contra os esfarrapados do mundo, no Brasil. Essa elite não suporta a verdade histórica que, através da própria História, mostra como os séculos passam e as riquezas que o povo produz são roubadas, direitos são extraídos e a justiça social abortada, justamente por causa dessa elite.

Essa premissa cruel de tentar esconder a História do povo também é percebida na forma como a matéria de História é posta nas escolas de nível fundamental e médio: geralmente poucos períodos por semana se comparado com outras matérias (de igual importância como Matemática e Língua Portuguesa). Além do que, para os jovens estudantes, a História da sala de aula continua sendo uma matéria chata e enfadonha, cheia de nomes e datas que devem ser decorados.


Qual o papel do historiador?

É diante deste cenário pouco animador que devemos nos perguntar: qual o papel do historiador na luta de classes brasileira?
Uma vez que a maioria dos historiadores estão restritos a sala de aula, o nosso papel, como professores de História deve ser o de tentar levar o “senso comum” à “consciência histórica”. O que isso quer dizer? Quer dizer que é necessário combater a onda crescente de desinformação presente nas tecnologias da informação, tais como celulares smartphones. As fake news, muitas vezes, são o fio condutor de muitos debates e conversas.
Além da educação básica, os historiadores também devem lutar no ensino superior. Dentro das faculdades e universidades, os professores de História devem buscar a democratização do ensino público superior. Infelizmente, hoje em dia os historiadores universitários se acomodaram como uma “casta”. Deveriam usar sua influência para lutar contra o vestibular; contra os horários absurdos nos cursos superiores que impedem muitos jovens de estudar e trabalhar (principalmente os mais pobres).

É usual um desconhecimento sobre o que é luta de classes e como ela se relaciona com a educação escolar. Ainda quer os historiadores universitários achem que estão em uma “casta”, eles fazem parte de um grupo de pessoas em relação ao seu lugar no modo de produção que hoje rege o Brasil, que é o capitalista. Eles são uma parte da classe trabalhadora, a menos que sejam proprietários de uma empresa educacional ou de outro tipo. E mesmo que não se sintam uma categoria de uma classe social, eles estão na luta de classes, que acontece independente dos seus pensamentos, e de suas inimizades ou sentimentos. Eles estão dentro de um conflito muito antigo, que ocorre entre grandes parcelas de pessoas, que é a luta de classes. Esse combate dividiu as sociedades em explorados e exploradores, em oprimidos e opressores.

Na História do Brasil, foram conflitos entre trabalhadores escravizados e senhores de trabalhadores escravizados, e hoje entre trabalhadores livre, em geral assalariados, e capitalistas, aqueles que vivem do trabalho de outrem, de sua mais valia, da exploração da força de trabalho que não é o seu, logicamente. A luta de classes é um processo histórico na nossa História, todos nós participamos. Nós, historiadores, somos os escravizados, os plebeus, os servos da gleba, os camponeses, de hoje, na sociedade onde trabalhamos.

Para mudar essa situação desigual, devemos deixar de nos sentir uma “casta” separada das outras pessoas que estão na nossa classe trabalhadora, e interferir na luta de classes, em nosso favor.

Bibliotecas Populares como a Luis Carlos Solim, em Alvorada/RS, são exemplos de interferência na luta de classes 

Em tempos sombrios como os que vivemos, onde terraplanismo é tido como cientificamente válido, que fake news são tidas como verdades absolutas e protestos contra a democracia ganham volume (inclusive dentro de setores mais pobres da sociedade para os quais o fim da democracia liberal – apesar de seus defeitos – seria um verdadeiro genocídio), o historiador consciente e engajado deve militar a favor da História e não contra ela. É preciso usar o conhecimento histórico acumulado pela sociedade e interpretá-lo a partir da luta de classes com as especificidades brasileiras.

O passado ensina, mas só aqueles que estão dispostos a aprender.


Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na  rádio A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.
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