Livro: Planeta Favela
Autor: Mike Davis
Editora: Boitempo
Ano: 2006
O livro de Make Davis aborda o desenvolvimento e expansão das favelas, moradias precárias, bem como as condições de vida, trabalho e higiene de seus bilhões de moradores em diversas partes do Terceiro Mundo.
O fenômeno da "favelização" das grandes cidades teve sua intensificação na décadas de 1960 e 1970, quando foram abandonados os projeto de reforma urbana de governos nacionalistas, ao mesmo tempo que vários governos do Terceiro Mundo (países subdesenvolvidos) adotaram medidas de "ajuste econômico" do FMI e Banco Mundial. A partir das décadas de 1980 e 1990, as favelas só se espalharam e sua população só aumentou; a ponto da cidade "planejada/desenvolvida" ser apenas uma "ilha" em meio ao mar de moradias precárias, sem rede de esgotos adequadas, ruas em péssimas condições de uso, iluminação e acesso a água potável quase inexistentes - além de muitas das favelas estarem em áreas de risco, sujeitas a deslizamentos e inundações (neste sentido existe uma "ecologia" própria das favelas, as relações entre as ocupações irregulares e a natureza que as cerca).
Os moradores das favelas são homens e mulheres que acabam sendo excluídos da economia formal, graças às receitas do FMI e Banco Mundial de minimizar o Estado. Dentro dessa informalidade, atuam ONGs que iludem pessoas com a ideia de que basta empreender para obter sucesso na vida - desta forma, propostas radicais de reforma urbana são completamente esquecidas ou esvaziadas.
Trechos do livro:
"Embora algumas favelas tenham uma longa história - a primeiras favela do Rio de Janeiro, no morro da Providência, surgiu na década de 1880 -, a maioria das megafavelas cresceu a partir da década de 1960." (p. 37)
"[...] No Brasil, o presidente João Goulart e Leonel Brizola, governador radical do Rio Grande do Sul, conquistavam amplo apoio para a sua ideia de um 'New Deal' urbano. [...]. No restante do Terceiro Mundo, a ideia de um Estado intervencionista muito comprometido com a habitação popular e a criação de empregos parece alucinação ou piada de mau gosto, porque há muito tempo os governos abdicaram de qualquer iniciativa séria para combater as favelas e remediar a marginalidade urbana". (p. 70)
"Melhorar as favelas em vez de substituí-las tornou-se a meta menos ambiciosa da intervenção pública e privada. Em vez da reforma estrutural da pobreza urbana imposta de cima para baixo, como havia sido tentado pelas democracias sociais da Europa no pós-guerra e defendido pelos líderes revolucionários-nacionalistas da geração dos anos 1950, a nova sabedoria do final da década de 1970 e início da de 1980, exigia que o Estado se aliasse a doadores internacionais e, depois, a ONGs para tornar-se um 'capacitador' dos pobres." (p. 80)
"Apesar de toda retórica retumbante sobre democratização, autoajuda, capital social e fortalecimento da sociedade civil, as verdadeiras relações de poder nesse novo universo das ONGs são parecidíssimas com o clientelismo tradicional." (p. 85)
"A piora das condições econômicas limita a capacidade das famílias trabalhadoras urbanas de implantar estratégias de mobilidade social a longo prazo, já que as obriga a mobilizar os seus recursos internos e a fazer amplo uso de sua força de trabalho para a sobrevivência básica". (p. 163)
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