RESENHA DE LIVRO: “A Máquina do Caos”

 Livro: “A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo”

Autor: Max Fisher

Editora: Todavia

Ano: 2023


No livro “A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo” o repórter Max Fisher analisa a arquitetura das redes sociais e aponta como elas contribuem para diversas atrocidades: de disseminação das notícias falsas e movimentos antivacinas a teorias conspiracionistas; de massacres transmitidos ao vivo e etnocídio a desastrosos movimentos políticos baseados no ódio e nas ameaças de morte; de grupos de ciberbullyng a crimes envolvendo stalkers. Dentro desse leque de desastres sociais, o ponto mais chocante: as grandes empresas responsáveis pelas redes sociais (principalmente Facebook eYouTube) são completamente coniventes com as mais bizarras atrocidades.

A obra é uma jornada aterrorizante para os efeitos perversos, e reais, das redes socais sobre grupos e sociedades inteiras. Ao mesmo tempo que o poder e influência das empresas, e seus principais acionistas, cresce a ponto de desafiar leis, regulações e a própria democracia liberal.



TRECHOS DO LIVRO:

“A mãe que aceita que vacinas são mais seguras tem poucos motivos para passar tanto tempo discutindo esse assunto na internet. […]. Mas uma mãe que suspeita que existe uma imensa conspiração na medicina que faz mal a seus filhos, […], pode passar horas pesquisando sobre o assunto. Também é provável que corra atrás de aliados, compartilhando informações e coordenando ações para revidar. Para a inteligência artificial que gerencia uma plataforma de mídias sociais, a conclusão é óbvia: mães interessadas em questões de saúde vão passar muito mais tempo na rede se entrarem em grupos antivacinas”. (p. 27)


“Postar no Twitter pode render uma grande compensação social, na forma de curtidas, retuítes e respostas. Ou pode render uma recompensa zero. Como você nunca sabe o resultado, fica complicado deixar de puxar a alavanca”. (p. 41)


“Mais do que gênero ou raça, esse era o arquétipo rigoroso em torno do qual o Vale [do Silício] projetou seus produtos: o homem geek, implacável, lógico, misantropo e branco. Durante boa parte da história da área da tecnologia, essa predileção afetou poucos além das mulheres e minorias que lutavam para aguentar seu ambiente de trabalho. Mas, com o advento das redes sociais, a indústria começou a embutir seus piores vícios em empresas que contrabandeavam esses excessos – o chauvinismo, a cultura do assédio, o majoritarismo disfarçado de meritocracia – para a casa de bilhões de pessoas.” (p.73)


“A verdade ou a mentira têm pouca importância na recepção de uma postagem, exceto no aspecto de que uma pessoa mentirosa tem mais liberdade para alterar os fatos que se conformem a uma narrativa provocadora. O que importa é se a postagem pode desencadear uma reação forte, geralmente de indignação.” (p. 126)


“Longe de serem um fenômeno marginal, essas conspirações representavam uma mudança mais profunda que fora forjada pelas plataformas de mídias sociais. Os moradores do Oregon haviam votado pela proibição do flúor e os brasileiros tinham recuado nas proteções contra o zika – nos dois casos, com base em crenças cultivadas pela internet”. (p. 173)


“A política dos fundadores do PayPal tendia fortemente para o libertarismo: eram darwinistas sociais, ciosos do governo e certos de que o mercado sabe mais. [Peter] Thiel [cofundador do PlayPal e acionista/financiador do Facebook] levou isso a tal extremo que, em 2009, anunciou: ‘Deixei de crer que liberdade é compatível com democracia’. Não se podia mais confiar na sociedade como ‘demos não pensante que guia a dita democracia social’, escreveu, usando o termo grego para coletividade dos cidadãos. Só ‘empresas como o Facebook’ podiam resguardar a liberdade.” (p. 321)


“Pessoas que deletaram o Facebook se sentiam mais felizes, mais satisfeitas com a vida e menos nervosas. A mudança emocional era equivalente a 25% a 40% do efeito de fazer terapia – queda impressionante para uma pausa de quatro semanas” (p. 326)





Sobre o autor:
 
 
Fábio Melo: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata (GEACB). Pesquisa sobre História Social da América e Educação. Produtor e radialista do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada. Professor de História. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.


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