Manco Inca |
Essa história serve como uma reflexão aos que se enxergam como eternos vencidos da vida. Ou, no mínimo como meros figurantes no teatro da história, incapazes de ousarem mais. Tanto quanto aos que acham que a história é como uma correnteza contra a qual não se pode nadar.
Mesmo não sendo este personagem de quem quero falar, um indivíduo de fato marginalizado. Já que o protagonista desta trama já havia nascido numa classe que aprendera a se impor e não só a se submeter. Ainda assim, sua saga nos convida a refletirmos sobre como nós podemos forjar também o nosso destino. Então por que não a conhecermos um pouco mais? E assim que cada leitor, em seguida, tire suas conclusões.
Sendo o nosso personagem apenas um membro da corte inca, sem grande importância. Por mais que ele fosse filho de um dos últimos governantes incas, Huayna Capac, não passava de só mais um dentre outros 500 filhos deste monarca. E que, por muito tempo não teve nenhuma responsabilidade relevante nos assuntos de sua nação.
Nem mesmo quando estourou a guerra civil que decidiria o futuro de todo o Tahuantinsuyo (nome correto deste que chamamos de império inca), ele não passou de um mero coadjuvante desta. E é assim que se inicia a história de Manco Inca Yupanqui, nascido possivelmente em 1516.
Uma trajetória discreta que por pouco não terminou com ele a ser uma mera menção na história. Ou, talvez, até mais: tendo o seu nome de todo esquecido. Uma vez que o rapaz, neste tempo, em 1829, quando toda esta história começa, ele não deveria ter muito mais do que 13 anos de idade.
Deste modo, sem grande entendimento dos fatos. Bem diferente dos meio-irmãos: Huascar e Atahualpa, os grandes personagens deste traumático conflito. Manco apóia ao primeiro deles. Pois, como membro da nobreza de Cuzco, a capital imperial, ele respeita ao testamento do imperador anterior, seu pai Huayna.
O qual deixara para o segundo filho, Atahualpa, somente as terras do reino de Quito, no norte do império. O que não bastava para este outro. Levando o mesmo a impor suas ambições, igual a tantos outros governantes já o fizeram ao longo da história da humanidade: massacrando seus opositores.
A começar por seus meio-irmãos que não lhe seguem, em 1533, quando o general inca Quizquiz, a mando deste Atahualpa ocupa Cuzco, matado a quase todos esses familiares. Sendo que a esta altura dos fatos, o imperador de seu povo que se fez pelas armas, já era, ironicamente, prisioneiro dos espanhóis desde o dia 16 de novembro do ano anterior.
Por sua vez Manco Inca foi um dos poucos que conseguiu fugir ao massacre. O que pouco importava ao, por ora, grande vencedor Atahualpa. Pois só Huascar lhe representava perigo. Os invasores brancos, poderiam se aliar a este. Temor que fez ao atual soberano que, há algum tempo, já mantinha seu rival em cativeiro, mandasse então lhe executar. O que fazia com que restasse um único reclamante ao trono agora: o próprio Atahualpa. Ou era o que ele pensava.
Uma vez que um dos líderes das forças espanholas que invadiram o Peru, Francisco Pizarro, revoltado com isso, não hesita e liquida a Atahualpa, em retaliação. Como consequência disso, o império caminha para o colapso. O povo precisa pensar que a ordem ainda pode ser mantida e a paz restaurada. O trauma de toda essa violência é insuportável, mas a despeito disso, sem previsão de acabar.
Os invasores, portanto, necessitam de um fantoche para manter a estabilidade, conter a essa população desesperada. Alguém que tivesse a legitimidade de ser um verdadeiro herdeiro do trono. E quem seria o escolhido? Não, não foi Manco Inca, ainda.
Topa Hualpa, outro meio-irmão, que igualmente sobrevivera aos massacres de Atahualpa (assim como um terceiro de nome Paullu Inca), foi o escolhido. Todavia, marcando uma trajetória bastante efêmera, já que ele foi logo descartado das tramas políticas de seu país. Quando Calcuchimac, outro general leal a Atahualpa, lhe envenenou. E o perigo de um grande caos voltou a dominar todo o contexto.
De modo que, em busca de uma nova marionete a lhes ser submissa, os espanhóis fazem de Manco, agora, o novo soberano. Assumindo, neste mesmo ano de 1833, o nome de Manco Capac II, evocando à memória do mítico fundador da Tahuantinsuyo.
Sendo que ironicamente ele, de fato, faria jus a referência deste novo nome, por mais que os livros sobre isso, comumente não lhe façam a merecida justiça. Uma vez ele tendo se tornado, anos depois, o fundador de um novo Estado inca. Por mais que, talvez, ninguém esperasse isso dele. Muito menos este Pizarro e seus cúmplices que não tinham como imaginar a grande ascensão daquele jovem até então inexpressivo.
Por mais que os livros escolares comumente passem uma imagem diferente sobre ele, assim o desprezando injustamente. O fazendo apenas uma nota de rodapé ao se contar da conquista do Peru. E o pior: como um mero joguete dos invasores espanhóis.
Omitindo toda a sua obra que, uma vez conhecida, é admiravelmente apaixonante Haja vista que o domínio estrangeiro dos Andes, anos após a sua coroação, nunca seria certo enquanto este bravo existisse.
E que por isso merece uma continuação no próximo artigo que irá contar muito mais do que você imagina sobre este que o destino parecia lhe reservar o esquecimento e nada mais. Perspectiva contra a qual ele lutou e de certo modo a venceu. Dúvida? Então confirmemos isso no artigo seguinte que concluí sua admirável saga em que este jovem Manco Inca Yupang não se intimidou em forjar sua própria história.
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