“Antigamente as grandes nações mandavam seus exércitos conquistar territórios e o nome disto era colonização. Hoje as grandes nações mandam suas multinacionais conquistar mercados e o nome disto é globalização.” Milton Santos.
Globalização é um processo de integração econômica e cultural em escala global, que passou a vigorar após o fim da Guerra Fria. Sendo um processo, é algo que está acontecendo, de formas diferentes em cada lugar.
Todos os países, de alguma forma, estão conectados economicamente – importam e exportam, utilizam as redes sociais e a internet para serviços bancários e financeiros. Produtos e marcas que são produzidos em um país podem ser vendidos em todos os cantos da terra. Isto acontece também por causa das empresas multinacionais (ou transnacionais): que estão instaladas em diversas partes do mundo. Talvez você nunca tenha ouvido falar em empresas transnacionais, mas conhece as marcas Nike, Adidas, McDonalds, Samsung, LG, iPhone, Volkswagen; estas marcas são de empresas multinacionais: foram criadas em um país (EUA, Alemanha, Coreia do Sul) mas possuem lojas e indústrias em vários países do mundo, inclusive no Brasil.
Os produtos feitos por estas empresas transnacionais também são exemplos da globalização mundial (da integração econômica do mundo). Um tênis, por exemplo, pode ter sua matéria-prima (couro ou borracha) vindo do Brasil, Indonésia ou Índia. Sua montagem é feita numa fábrica na Tailândia. Desta fábrica ele é transportado e vendido nas lojas do mundo todo; mas sua propaganda e o desenho do tênis é feito nos escritórios da transnacional que fica nos Estados Unidos ou Alemanha – cujos funcionários ganham muito mais pensando em como vender o tênis e no seu desenho do que aqueles trabalhadores que fabricam o calçado.
O mesmo ocorre com os aparelhos celulares. Sua matéria-prima (os minerais coltan e estanho) são extraídos no Congo por trabalhadores com salários baixos em condições precárias. As indústrias que transformam a matéria-prima em produtos semiacabados se localizam em países com grande tecnologia; sejam eles desenvolvidos, como os Estados Unidos, ou subdesenvolvidos, como Brasil ou Indonésia. Estes produtos semiacabados são enviados para linhas de montagem onde os trabalhadores juntam os componentes e o produto é finalizado. Geralmente essas linhas de montagem se localizam em países com grande quantidade de mão de obra de baixo custo (ou seja, trabalhadores que ganham pouco e trabalham muito). Após o aparelho pronto ele é enviado para lojas do mundo todo onde são vendidos – mas os lucros ficam com as empresas que tiveram a ideia do aparelho celular; que se localizam em países desenvolvidos (Apple, Samsung, LG).
Globalização e Divisão Internacional do Trabalho
A Divisão Internacional do Trabalho[1] é o modo como cada país está inserido na produção mundial de bens e serviços. Alguns países (principalmente aqueles chamados subdesenvolvidos) são especializados em produzir matérias-primas, ou produtos primários (animais, minerais e vegetais), de baixo valor comercial no comércio global. Enquanto isso, outros países (os chamados desenvolvidos) são especializados em produzir tecnologias, que tem alto valor no comércio mundial; e também controlam o sistema financeiro do mundo através de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Esta divisão (a DIT) é resultado de um longo processo histórico que tem início na Revolução Industrial e nas independências dos países latino-americanos no início do século XIX.
Globalização e cultura
A rapidez das informações criam “padrões” de culturas globais. Por exemplo: em todo o mundo se usa calça jeans, se compra a camiseta de um determinado time de futebol europeu, nos alimentamos no McDonalds, usamos celulares smartponhes e Iphones e assistimos filmes que geralmente são feitos nos Estados Unidos. Esta padronização cultural, nos leva a refletir até que ponto nós apenas somos consumidores passivos das culturas estrangeiras ou que somos produtores de uma cultura própria.
Um exemplo de globalização cultural são os animes e mangás japoneses; nós brasileiros temos fácil acesso a estes itens; e através deles sabemos mais sobre a cultura nipônica. Ou os filmes de Hollywood, com seus padrões estéticos e que trazem consigo uma grande propaganda do estilo de vida e dos bens de consumo dos Estados Unidos.
Globalização: local X global
Esta relação cultural também reflete no nosso entendimento entre o LOCAL e o GLOBAL. Cada vez mais os espaços têm características globais e as vezes perdem sua identidade. Neste sentido existe uma certa “dialética dos lugares”. Mais uma vez Milton Santos: “Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente.”
Globalização e desemprego
O processo de globalização trouxe o desemprego em muitos países; também colocando milhares de pessoas no trabalho informal. Isto porque, a facilidade com que muitos países compram tecnologias estrangeiras (de países desenvolvidos) faz com que se dispense parte da mão de obra humana utilizada na produção. Por exemplo, uma máquina com alta tecnologia é capaz de “tirar” o emprego de várias pessoas. Assim, o aumento do uso da tecnologia na produção de alimentos, produtos e serviços, diminui os postos de trabalho. Ao mesmo tempo em que os trabalhadores devem ser cada vez mais especializados em várias áreas; na lógica toyotista de organização da produção[2]
Linha de montagem |
Exemplos de como a tecnologia, adquirida facilmente no processo de globalização, tira empregos no mundo todo. Acima, uma linha de montagem de automóveis nos anos 1950, repare os trabalhadores cada um com uma função específica (organização fordista). Abaixo uma linha de montagem nos anos 2000; as máquinas fazem o trabalho.
Notas:
[1] Para saber mais sobre a Divisão Internacional do Trabalho acesse:
http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2017/01/miseria-das-nacoes-divisao.html
[2] Para saber mais acesse:
http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2017/06/fordismo-e-toyotismo.html
[1] Para saber mais sobre a Divisão Internacional do Trabalho acesse:
http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2017/01/miseria-das-nacoes-divisao.html
[2] Para saber mais acesse:
http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2017/06/fordismo-e-toyotismo.html
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.
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Muito bom o artigo sobre Globalização
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