NOVA HARMONIA: Socialismo Utópico na América

Dentro da História do Socialismo está o Socialismo Utópico. Dentro da História do Socialismo Utópico está a América. O Socialismo teve como um dos fatos históricos mais remotos a Conspiração dos Iguais, um movimento revolucionário ocorrido dentro da Revolução Burguesa Francesa, liderada pelo jacobino radical, jornalista da Tribuna do Povo, que usava o apelido Graco Babeuf (em homenagem aos irmãos Tibério e Caio Graco, da Roma Clássica). O movimento revolucionário fez o Manifesto dos Iguais, e  Babeuf afirmou que era “a propriedade, sobre a terra, a causa de todos os males”. Saint Simon, ao lado de Babeuf, figura como mais um nome destacado da História do Socialismo, militante da Guerra da Independência das Treze Colônias, da Revolução Francesa, considerava-se um revolucionário “construtivo” e achava Babeuf um revolucionário “destrutivo”. Para Saint Simon, o Estado deveria ser apoderado pelos industriais, tirando o Estado das garras da burguesia. Não podemos esquecer de Charles François Fourrier, entre os revolucionários proeminente da História do Socialismo, um auto didata, teórico dos falanstérios, o meio segundo ele para a Humanidade passar da Era da Civilização (que tem peso negativo para as mulheres e para o proletariado), para a Era Societária. 

 

                                                       Robert Owen
 

Vimos que o Socialismo Utópico foi forte na França, todos os nomes citados são de pessoas da França e do Socialismo deste tipo. Mas temos também a Venezuela e os Estados Unidos dentro da História do Socialismo citado. Dessa forma, o primeiro que deve ser negritado é o revolucionário socialista utópico Simon Rodriguez e sobre ele há indicação de dois textos presentes no nosso blog, sendo desnecessário aqui dissertarmos sobre ele. Eu escrevi, junto ao historiador Fábio Melo, o texto chamado “Simón Rodriguez: o primeiro educador popular da América Latina”  e o mesmo Fábio Melo escreveu sozinho o texto “Socialistas latino-americanos” . Todos os escritos estão no blog do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata, e estas duas produções textuais servirão para pensarmos sobre a América Latina dentro da história do Socialismo Utópico. Sobre o Socialismo Utópico nos Estados Unidos temos como personagem o rico industrial inglês nascido no País de Gales, Robert Owen, e sua experiência socialista conhecida como Nova Harmonia.

 

Nova Harmonia foi uma comunidade projetada, criada e financiada por Owen, localizada onde hoje fica uma cidade de mesmo nome, no Estado de Indiana, nos Estados Unidos. O local dessa comunidade tem origem mais próxima em um assentamento com cerca de 8.100 ha, de um grupo de luteranos liderados por George Rapp, por isso ficou conhecido na História como Sociedade da Harmonia de George Rapp. Em 1825, o grupo de luteranos vendeu sua cidade para Owen. O experimento socialista durou cerca de dois anos e deixou um legado para os Estados Unidos, principalmente na educação e na pesquisa científica, mas não apenas. 

 

E como funcionava Nova Harmonia? 

 

Consta que Owen tinha uma visão de criar um “novo mundo moral”, em busca de felicidade, iluminação e prosperidade, por meio de investimentos em educação, ciência, tecnologia e vida comunitária. Então ele quis comprar uma cidade para provar que suas teorias eram viáveis. Assinou o contrato de compra e chamou a todos que quisessem a se juntar a ele e seu experimento social, sem distinções. Em abril de 1825, a cidade possuía entre 700 e 800 moradores membros. E em maio do mesmo ano, a comunidade adotou a “Constituição da Sociedade Preliminar”, criando uma empresa que promoveria a igualdade social e uma diferenciação para adquirir crédito nesta empresa para membros que prestavam serviços para a comunidade ou não. A Constituição definiu que Nova Harmonia seria governada por um comitê formado por 4 membros escolhidos por Owen e 3 membros eleitos pela comunidade.

 

                                 Nova Harmonia, na visão de Robert Owen

 

Enquanto Nova Harmonia se desenvolvia por meio da Constituição, Owen viajava para promover a experiência socialista e recrutar novos moradores, conseguindo apoio financeiro de familiares para o empreendimento. Quando retornou para Nova Harmonia, percebeu que havia forte descontentamento, com reclamações sobre desigualdade de crédito para trabalhadores e não trabalhadores, superlotação da cidade (faltando moradia e com dificuldades na produção), além de escassez de trabalhadores especializados e qualificados. Para tentar resolver a crise, em 5 de fevereiro de 1826 a cidade adotou uma nova Constituição, com o nome “The New Harmony Community of Equality”, que destacava os princípios de direitos iguais e igualdade de deveres. Na Constituição constavam as partes: cooperação, propriedade comum, benefício econômico, liberdade de expressão e ação, gentileza e cortesia, ordem, preservação da saúde, aquisição do conhecimento e obediência às leis do país, bem como dividia os cidadãos conforme a idade. 

 

Considerado um anarquista individualista, Josia Warren, foi um dos moradores originais de Nova Harmonia, sobre a qual fazia diversas críticas. Owen também fez críticas escritas, concluindo a partir da experiência que “A cooperação é uma agência principal destinada a acalmar os conflitos clamorosos entre capital e trabalho; mas então deve ser introduzida a cooperação gradualmente, administrada com  prudência”. O desânimo em Nova Harmonia era crescente, e em 1826, um grande grupo de membros saiu da comunidade, resultando em mais uma reorganização. 

 

Na reorganização de Nova Harmonia, o trabalho se dividiu em 6 departamentos, cada um com um superintendente. Cada um dos 6 superintendentes e um secretário eleito participavam de um conselho administrativo. Os departamentos eram: agricultura, manufatura, economia doméstica, economia geral, comércio e literatura, ciência e educação. Há várias outras tentativas de reorganização, diversas disputas e Nova Harmonia foi finalmente dissolvida em 1829. Owen ficou com as dívidas dos moradores membros, perdendo quase toda a fortuna que possuía. Em 1827 vai para o Reino Unido, onde com o aprendizado do experimento americano, organizou várias cooperativas, um sistema de bolsas de trabalho e promoveu uma enorme União Sindical. Em sua vida teorizou em livros, e segundo diversos autores foi o primeiro a usar a palavra Socialismo para denominar a sua doutrina.  Antes de falecer, na sua cidade natal em 1858, fez portanto diversas contribuições para o Movimento Operário, Sindical, e para o Socialismo. Dessa forma, o “Dicionário do pensamento marxista” dissertou sobre Roberto Owen:

 

Na Inglaterra, Owen tornou-se famoso pela gestão das fábricas têxteis de New Lanark, que, segundo afirmava, eram uma justificativa prática de sua teoria, e pela sua proposta de acabar com o desemprego que sucedeu ao fim das Guerras Napoleônicas por meio da construção de comunidades baseadas em seus princípios. Seu esforço para convencer as classes políticas governantes do valor de seu projeto falhou principalmente devido ao choque explícito dos seus princípios com as suposições do cristianismo oficial. Owen foi então para os Estados Unidos, com o intuito de validar seus princípios com a criação da comunidade de New Harmony (Nova Harmonia). Em sua ausência, algumas de suas ideias foram aproveitadas pelos radicais da classe operária interessados não tanto nas comunidades, mas na produção e na troca cooperativas como alternativa para a competição. Em princípios da década de 1830, criaram-se várias centenas de cooperativas, e foram feitas tentativas análogas para estabelecer centros de emprego e sindicatos gerais de produtores, tendo esses últimos culminado no mal sucedido Grand National Consolidated Trade Union (Grande Sindicato Nacional Consolidado) de 1843. Depois do fracasso desses projetos, os owentistas voltaram às experiências de comunidades (em Queenswood) e à luta de sua ‘religião racional’ contra o cristianismo ortodoxo” (p. 503).

 

A partir deste breve esboço textual e reflexivo, podemos afirmar que o Socialismo Utópico é algo que se resume a Europa, e que resultou em experiências que trouxeram apenas derrotas e fracassos? Uma das formas de apoiar Nosso Grupo de Estudos é estudar para responder as provocações contidas nas perguntas.

 

REFERÊNCIAS:

 

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. 2° ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

KONDER, Leandro. As idéias socialistas no Brasil. São Paulo: Editora Moderna, 1995.

MELO, Fábio. FREITAS, Rafael. Simón Rodriguez: o primeiro educador popular da América Latina. Disponível em: http://geaciprianobarata.blogspot.com/2015/12/simon-rodriguez-o-primeiro-educador.html.

MELO, Fábio. Socialistas latino-americanos. Disponível em: http://geaciprianobarata.blogspot.com/2014/06/socialistas-latino-americanos.html

New Harmony. Disponível em:  https://stringfixer.com/pt/New_Harmony,_Indiana.

Robert Owen. Disponível em:   https://brasilescola.uol.com.br/biografia/robert-owen.htm

 

Sobre o autor:


 

Rafael Freitas: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo  de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e apresentador do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada.

 

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